20.6.08

Legítima defesa

Dizia que ela tinha a boceta dentada, tamanha a impressão que lhe causava. Bobagem, seria no máximo uma boca banguela; o fato é que uma vez mergulhado nela sentia seus anéis o sugando, espremendo como se quisessem tirar dele todo o caldo. Não relaxava nunca, em apertões ritmados torturava-lhe o pau e era assim que ele se sentia, uma vítima atormentada e refém da musculatura ágil; gozava meio a contragosto e o sabor que lhe restava era amargo.

No começo admirara sua habilidade, alardeara aos amigos e ansiava pelo arroxo morno e úmido, depois virou angústia da qual não podia livrar-se, adiava o momento o mais que podia gastando o que tinha de língua e dedos até que ela o buscasse imperativa. Incomodava-o perder o controle, incomodava-o sua destreza algo excessiva, imaginava-a em treinos exaustivos com bolinhas coloridas mas ainda assim o pau traidor se rendia, sua porra se esvaía rápida e ele, comedor de tantas e bem cantadas glórias, sentia-se impotente na alma.

Um dia brochou de verdade. Se a brochada era antes o avesso de cada gozo, a impotência da vontade diante do pau antes disposto e dócil, desta vez foi o contrário. Anunciou como quem comemora o gol, querida, brochei! Disse adeus àquela ginástica dos infernos, agora sim sentia-se amigo do próprio membro, companheiro que se postava leal junto às suas fileiras. Mulher nenhuma mandaria nele; antes assim, mole e recolhido, que rijo à mercê de uma louca voraz.
Você deve pensar que eu sou maluca, cheia de neuroses, delírios, desassossegos, e, bingo, você acertou. As unhas são poucas para tanta parede a arranhar mas babo mansa quando meu nome dança em tua boca e esperar por aquilo que talvez nunca venha é ainda a minha melhor perspectiva; traço rotas de um ponto de fuga a outro pois já me fiz ao mar tantas vezes que não posso ocultar a verdade: a linha do horizonte é intangível, o meu caminho a paralela de excessão que nunca encontrará a tua, o infinito só existe em mim e em mim você não está. Não te prendo nem perdoo, o respeito é a grama sobre a qual um dia nos amamos, prefiro te ver correndo enquanto fico a escarafunchar minhocas, os seres subterrâneos, a terra úmida que me refresca a pele febril; porca-mãe obstinada, vaca sagrada a regurgitar, quanto mais surreal mais etérea e assim seja, bastam-me minhas próprias raízes, âncoras-grades que moldei passional, para ti um sonho que acaba à luz do sol.

16.6.08

Yuji Moriguchi








Achei esse link faz um tempinho, mas esqueci onde foi. Se foi no seu blog, avisa que eu digo aqui.
Lindos desenhos, né? Pra enfeitar um pouco essa telinha.
Beijos


Atualizei os links da lista aí ao lado. Tudo blog que eu vejo faz tempo mas acabava esquecendo de linkar. Gosto de todos, mas recomendo especialmente o Uia, que lista as baladas bacanas de todos os dias. Tá caçando o que fazer? Olha lá, a seleção da Ana é supimpa.

14.6.08

filme pornô

Ela olha para a câmera. Lentamente, ele introduz um lenço vermelho em sua boca.
_ Hold it.
Ela tem engulhos. Ele a esbofeteia.
_ Hold it.
Ela pisca e lacrimeja, mas seu rosto não se move. Ele termina de colocar todo o lenço.
_ Good girl.
A rainha má mandou matar a Branca de Neve, e ainda ordenou que arrancassem o coração dela.
Mas é a TV de hoje que é violenta. Então tá.
Que me perdoem as mais eufóricas, mas para mim a imagem do paraíso está bem longe de alguém batendo na porta do banheiro e gritanto:
_ Abre, mãe! O que você tá fazendo? Abre a porta, mãe!

-//-

Hoje, às 11h20, sentei num pão com requeijão. Não chorei. Eu sou forte. Eu sou.

12.6.08

Sob o caminhão, uma poça amarelada. Confiante, joguei ali o meu cigarro. Não explodiu.
Tem dias em que nada dá certo.

4.6.08

Depois do jantar da pequena, passeio os olhos pela sala.
_ Bem, pelo menos se faltar comida poderemos lamber o chão. Está super nutritivo.

3.6.08

Tia Rosa

Dela só lembro dos cabelos algo revoltos e do lenço amarrado no pescoço, de lado. Eram os anos 70 e ela usava saias rodadas.

Um dia bateu pino, pulou da janela do sobradinho e foi estatelar-se no quintal; quebrou a cabeça e a alegria da vovó. Embirutou de vez.

_ Crianças, olha o barulho, a Rosa está descansando.

O silêncio da casa durou pouco. Tia Rosa arranjou uma arma - uma moça bonita, de família, arranjou onde um revólver, caramba? -, no quarto deu um tiro na testa, foi pro hospital mas não deu jeito: nunca mais vovó seria feliz até os ossos, os ombros do vovô curvaram-se para sempre e Rosa Maria era um nome que não se dizia mais.

Partiu nova, aos trinta e poucos, mas ninguém nunca disse que tinha virado estrela. Na verdade, a nós, miúdos, ninguém disse nada. Ficou assim, uma lembrança etérea e delicada de tia com nome de flor. Até hoje, quando faço arte, com um sorrisinho maroto me pego pensando: tia Rosa também era lelé.

2.6.08

E o melhor de tudo:

http://www.gamedesign.jp/index_en.html

Um site só de joguinhos bobinhos! Tem o dominó de esmagar o tomate! Hahahahahaha!

Gamei.

Update: Eeeeeca! Tem o cockroach dream, medonho, fiquei chocada. Nossa.
http://www.gamedesign.jp/flash/cockroach/cockroach.html
Só pra quem tem fé.

Ah, sim. Depois de expulsas do Astor, provamos o bolinho de arroz do Filial. Melhor, com grãos inteiros, queijinho derretido dentro, mas longe, longe dos bolinhos da Tia Silvia. E eu vou servir bolinho de arroz num casamento. Diante desta concorrência, impossível fazer feio.
Direto ao ponto: o Astor é um boteco que fez fama por servir quitutes da culinária brasileira. Pois, uma vez lá acomodadas, pedimos uma porção de bolinhos de arroz. Chegaram à mesa umas bolinhas diminutas, sequinhas, a fritura foi bem feita. Mas o que era aquela massaroca de arroz quebradinho? Parecia o arroz que minha avó usava na canja do cachorro. Uma indecência. Cadê o gosto da salsinha, obrigatório no bom bolinho? Sumiu e deixou no lugar o gostinho dos caldos quinor.
Persistentes, pedimos uma porção de croquetes de carne. Valha-me deus! Uma coisa feita de carne triturada que parecia uma salsicha, com gosto de salsicha, senhores, croquete de carne se faz é com carne assada!
Aqueles salgados pareciam da sadia. Sabe o gostinho das coisas prontas da sadia? De coisa industrializada? Pois sim, quitutes da culinária brasileira.
E o garçon deve ter-nos achado desanimadas, entendeu que tinha o dever de fazer graças, tentar uma amizade. Será? Para logo depois servir correndo a saideira que o bar ia fechar. Que decepção. Faço questão de voltar, não.

Só uma pergunta: por que, por que, por que que eu tenho essa mania de tomar cachaça com o chopp? Ai.

31.5.08

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Líquida e certa

A paixão é um rio que flui em mim. É água que não se detém diante de obstáculo nenhum. Contorna, passa por cima, desvia – mas segue.

É a paixão que abre meu corpo como se fosse a sua casa.

Você chega e ocupa cada um dos cômodos – como uma enchente.

Quando parte, me deixa líquida.

A paixão é o rio que escorre pelas minhas pernas.



Dezembro 27, 2007 "



Do curto e certeiro blog Duas Bocas, da Carmen (sem filtro).

30.5.08

Tia Inês

Sentada na espreguiçadeira, era o ícone da festa a começar. A cerveja gelada, o Rei no toca-fitas, mandou instalar um chuveirão no quintal para aproveitar melhor o sol e ficava dali assistindo; era a provadora oficial para o ponto de tudo, o molho, o recheio da torta, o palmito fresco.

A família ia chegando aos poucos e logo a mesa estava coberta de migalhas de pão e das cascas rosadas do queijo do reino, nós eramos quase sempre os últimos a chegar, ê, Fernando, perdeu a hora?

Antes de ir para a mesa separavam-se as porções dos ausentes, beringela para o Márcio, torta para a Célia, e então era a hora de atacar. O prato com florzinha era o da Inês e todo mundo já sabia, ele ficava lá, sobrando, enquanto ela bebia com calma e admirava o espetáculo do dá cá aquela coxa, o peito é meu, eu quero o pescoço.

Às vezes nos levava a passear. Uma tia, cinco sobrinhos, um ônibus e estávamos no Museu do Ipiranga, quem foi que deitou na cama do imperador? Glória das glórias, sempre chegava o dia da lanchonete e o céu era o limite para o tamanho dos sorvetes, aquários gigantes a transbordar coberturas.

Ela se dizia feia, muito feia, mas tinha o cabelo ruivo, sardas e muitos sorrisos.